Apesar do Rio de Janeiro ser uma cidade litorânea, não temos acesso a uma oferta regular de peixes e frutos do mar frescos. Uma solução para essa escassez é conhecer e incentivar a pesca local e artesanal. Os pescadores artesanais que resistem na nossa cidade trazem muita experiência, conhecimento e pescados excelentes para a nossa cozinha. Sem eles, estaríamos dependendo exclusivamente da pesca industrial, uma cadeia de extração agressiva contra o meio ambiente que visa apenas o lucro, sem se preocupar com a preservação das espécies marítimas.
Quer entender como podemos consumir de forma mais consciente? Vem com a gente que vamos contar tudo sobre isso!
Aqui no Rio temos águas férteis abarrotadas de espécies nativas como pargo, viola, corvina, bonito, linguado, tamboril e tantos outros peixes incríveis. Apesar dessa ampla gama de opções, os restaurantes oferecem os mesmos peixes: atum, salmão, tilápia e bacalhau, entre poucos outros. Assim, notamos um padrão de consumo desequilibrado entre o que pode ser pescado localmente e o que nos é oferecido pelos mercados e restaurantes.
Do lado do consumidor, esse desequilíbrio é alimentado pela falta de conhecimento sobre peixes nativos disponíveis, junto com a comodidade de ir ao mercado e encontrar sempre os mesmos produtos. Acabamos limitados à dietas repetitivas, com pouca variedade de nutrientes e de sabores. Essas dietas podem ser inclusive agressivas ao corpo, por conta dos agrotóxicos associados à produção de monoculturas que estão sempre presentes nos nossos pratos.
Peixes são alimentos mais variados justamente por ser difícil pescar sempre a mesma espécie. Quando o pescador joga a rede no mar, ele não sabe o que vai puxar. Então, para apoiar esse trabalho, é interessante experimentar espécies diferentes, comprar o peixe do dia e seguir a indicação do seu peixeiro. A experiência e conhecimentos do pescador e do peixeiro podem te guiar a fazer uma escolha voltada para espécies sazonais, pescadas naquele dia, e com certeza mais frescas e deliciosas.
Além da falta de variedade nos pescados oriundos da pesca industrial, temos um outro problema mais grave: os métodos e o volume dessa pesca. Muito do que é vendido nos mercados e peixarias tem origem nos cativeiros e na pesca predatória.
Os peixes de cativeiro são criados com uma alimentação pobre e cheia de hormônios e habitam viveiros lotados, onde as doenças se proliferam livremente. Isso reflete muito na qualidade e sabor da carne, além de poder carregar doenças e hormônios para o consumidor.
Já do lado da pesca predatória, o uso de tecnologias como radar e redes de arrasto com malha fina não consideram a maturidade, a época de desova ou o perigo de extinção de cada espécie, além de literalmente arrastarem tudo o que encontram pela frente, destruindo o equilíbrio do ecossistema marinho. Essa falta de discernimento na hora da extração é problemática porque ataca de forma muito direta a população do peixe, levando a um desequilíbrio em toda a cadeia alimentar marinha.
Além da pesca excessiva, existe o problema da poluição gerada pela pesca e pelo refino dos pescados para a produção industrial. A pesca industrial retira mais peixes do mar para processar em ração ou óleos do que para o alimento humano, enquanto que a pesca artesanal extrai quase que exclusivamente pescados para o nosso consumo. Essas práticas não poderiam ser mais diferentes e expressivas sobre o seu intuito.
O volume da pesca industrial é diretamente responsável pela rápida diminuição da vida marinha silvestre. Uma forma de tentar diminuir esse problema seria incentivar o consumo de pesca artesanal, que tem o know-how e as habilidades para extrair frutos do mar sem que isso seja agressivo ao meio ambiente.
Há mais de quatro séculos que a pesca artesanal está presente na orla carioca, mas hoje, poucas são as Colônias de pescadores que resistiram na nossa cidade. A Colônia de Pescadores Z-13, localizada no Posto 6 de Copacabana, segue com essa tradição junto a mais de 900 pescadores que atuam da Urca até o Recreio. Quando compramos direto dos pescadores estamos consumindo alimentos sempre frescos, locais, e sabemos exatamente o que estamos comprando e quem estamos financiando.
Seja lutando contra a concorrência desleal de navios pesqueiros industrializados ou contra a poluição, os pescadores artesanais são um grupo minoritário que não tem condições de sobreviver sem políticas públicas que reconheçam o seu valor e apoiem o seu desenvolvimento. Além disso, a mudança de hábitos de consumo e a conscientização do consumidor sobre os desafios da pesca ajudam a valorizar um saber tão tradicional quanto necessário.
Dois barcos no Posto 6 com o Pão de Açucar ao fundo